(Se você ainda não leu a parte 1, leia o artigo postado na semana passada).
Séculos depois de Raquel, outra mulher viveu uma circunstância
muito parecida. Seu nome era Ana e sua história pode ser encontrada em 1 Samuel
1. Ana era casada com Elcana, que também era marido de Penina. Penina tinha
filhos. Ana, não. Todos os anos, essa família israelita tinha o costume de
viajar para Siló, onde ficava o santuário central, a fim de oferecer
sacrifícios ao Senhor. Esses sacrifícios eram acompanhados de uma “refeição festiva que significava comunhão
com o Senhor e grato reconhecimento das suas misericórdias”[1].
Parece que durante essas ocasiões
festivas, a tristeza de Ana, por causa de sua esterilidade, era ainda mais
cortante. Sua rival, Penina, conseguia deixar tudo pior, é claro. Provocava Ana continuamente apenas para irritá-la. O resultado? Ana
chorava e não comia. Nossos problemas podem ser diferentes, mas talvez muitas
de nós entendamos
o que é estar tão
triste a ponto de ter o apetite alterado - para menos ou para mais.
Elcana procurava consolar a esposa, a quem
amava. Enquanto dava uma porção para Penina e cada um de seus filhos e filhas,
a Ana dava uma porção dupla. Ele perguntava: “Ana, por que você está chorando? Por
que não
come? Por que está triste? Será que eu não sou melhor para você
do que dez filhos?".
Talvez o carinho do marido pudesse trazer
algum alívio, mas não era capaz de curar sua profunda dor interior. Só havia um poderoso suficiente para
isso. E foi a ele que Ana recorreu.
Certa vez quando terminou
de comer e beber em Siló, estando o
sacerdote Eli sentado numa cadeira junto à entrada do
santuário do Senhor, Ana se levantou e, com a alma amargurada, chorou muito e
orou ao Senhor. E fez um voto, dizendo: "Ó Senhor dos Exércitos, se tu deres atenção
à humilhação de tua serva, te lembrares de mim e não te
esqueceres de tua serva, mas lhe deres um filho, então eu o dedicarei ao Senhor
por todos os dias de sua vida, e o seu cabelo e a sua barba nunca serão cortados”
(1
Sm 1.9-11).
Ana recorreu ao “Senhor dos Exércitos”, um termo que ressalta o
poder e a soberania de Deus sobre tudo e todos. Derramou diante dele o seu
coração, a sua alma amargurada, chorando e orando, mas fez isso com humildade,
não com arrogância. Sua oração não era uma exigencia, e sim um clamor.
Depois de orar, Ana “seguiu seu caminho, comeu, e seu rosto já não estava mais abatido”
(1 Sm 1.18). Espere um pouco… Você reparou no que esse trecho bíblico diz?
Ana conseguiu comer. E o seu rosto já não estava mais abatido. Mas, calma, as
circunstâncias não haviam mudado. Ela ainda não tinha um filho nos braços. Ela
sequer estava grávida! O que causou tamanha mudança em seu rosto, apetite e, em
especial, em seu coração?
Ela havia estado diante do Senhor! Havia
colocado sua tristeza diante do nosso Deus soberano e amoroso! Ela podia
confiar em sua bondade e poder. E nós também podemos. Mesmo sem ter (ainda) o
que havia pedido, ela já estava mais tranquila. Isso me lembra do texto de
Filipenses 4.6-7:
“Não andem ansiosos por
coisa alguma, mas em tudo, pela oração e
súplicas,
e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que
excede todo o entendimento, guardará os seus corações e as suas mentes em
Cristo Jesus”.
A promessa de paz não significa que receberemos tudo
o que pedirmos. Trata-se de uma paz que excede o entendimento - ou seja, paz
mesmo em meio a situações que
não levariam naturalmente à paz.
Paulo explica que o caminho para tal paz é entregar a Deus as nossas preocupações, com súplicas e ações de graças. Não foi isso que Ana fez?
Algum tempo depois, o bebê de Ana chegou.
Ela lhe deu o nome de Samuel, dizendo: "Eu o pedi ao Senhor". Ana
reconheceu que seu filho era uma bênção
de Deus e cumpriu fielmente o voto que fez a respeito dele. No segundo capítulo
de 1 Samuel, podemos ler um cântico de Ana ao Senhor, em que ela expressa sua
gratidão e reconhece a sua soberania. Quando Ana conseguiu o que tanto queria,
não se orgulhou nem ficou insatisfeita, pedindo mais. Ela simplesmente adorou o
doador da bênção.
Deu para perceber a diferença entre Raquel
e Ana? As circunstâncias eram muito semelhantes. Mas as atitudes radicalmente
diferentes de cada
uma evidenciam que as circunstâncias não podem nos obrigar a agir de
determinada maneira.
“Podemos não ser capazes de controlar as
circunstâncias, mas elas não precisam nos controlar. A verdade é que podemos
confiar em um Deus sábio, amoroso e soberano para controlar todas as
circunstâncias de nossa vida. A alegria, a paz e a estabilidade vêm de
acreditar que cada circunstância que envolve nossa vida foi previamente
filtrada por seus dedos amorosos e faz parte de um grande e eterno plano que
ele está realizando neste mundo e em nossa vida” (Mentiras
em que as mulheres acreditam e a Verdade que as liberta, Nancy DeMoss, pág.
217).
A tristeza, a angústia, o desejo não
atendido, a espera prolongada, a dor - tudo isso pode ser muito real! Mas se
somos filhas de Deus, redimidas pelo sangue de Jesus, temos uma escolha a
fazer. Não precisamos mais ser controladas pelo pecado. Podemos e devemos -
pela graça de Deus, que nos capacita - nos arrepender e abrir mão dos nossos ídolos. Em meio ao
sofrimento, podemos e devemos nos voltar ao único que realmente tem poder para mudar não só as circunstâncias, mas o nosso coração: o Senhor
dos Exércitos! É em
Cristo, e não meramente em uma mudança de cenário, que encontraremos a paz que
tanto ansiamos.
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Muito bem lembrado " devemos confiar e Deus Soberano", mesmo antes de nos atender como Ana fez.
ResponderExcluirTenho medo das promessas de Deus se cumprirem daqui décadas! De já sendo velho e perder a alegria da juventude...
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